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Viajando Com Garrett


Aos fãs de literatura portuguesa, eis uma obra que precisa fazer parte da sua lista de leitura. Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett. O que dizer deste livro? É um pouco complicado falar sobre ele. Pois trata-se de uma escrita complexa apesar da ideia simplista que sustenta inicialmente o roteiro.


Basicamente, o livro é uma narração do autor sobre uma viagem que fez de Lisboa à Santarém. Ele fala sobre todo o percurso, descreve as regiões geograficamente, os costumes de cada local por onde passa, as pessoas que cruzam o seu caminho. Ele tece comentários que nem sempre são pertinentes para a viajem, mas são essenciais para o livro. Ele também faz algumas digressões históricas e filosóficas e se expressa em outras línguas. Cita muitos escritores e filósofos antigos e contemporâneos a ele. Ele insere em seu relato a história de Joaninha; uma história fictícia que ele desenvolve dentro deste livro, em resumo, uma obra dentro de outra; esta é a parte mais interessante. Talvez não do ponto de vista acadêmico, mas sim da leitura enquanto entretenimento.


A leitura aqui não é fácil. Imagine um exemplar (que a princípio foram crônicas de em uma revista lisboeta) publicado em 1846 em português europeu, já em linguagem avançada em sua própria época. É um exercício e tanto. Foi um pouco penoso terminar esta leitura. Voltei e reli vários capítulos por diversas vezes. Fiz uso do dicionário como à muito tempo não fazia. E eu ainda tinha a meu favor o fato de ter morado em Portugal por cerca de cinco anos, o que me ajudou no entendimento dialético e geográfico.


Notei uma certa melancolia e incerteza no autor com relação a sua terra. Algo como o próprio Garret cita no trecho: “De que e como sou eu feito, que não posso estar muito tempo num lugar, e não posso sair dele sem pena?”. Identifico-me muito com o autor nesta questão.


Em suma, este é um texto quase erudito. Sua leitura é um desafio na atualidade. Não recomendo para quem quer ler apenas para relaxar. Mas para quem está extenuado das obras contemporâneas quase sempre com narrativas dominadas por repetição, esta é uma ótima oportunidade para conhecer uma obra original.

Trechos do livro

“Também deve de ser assim a morte: um descanso apático e nulo depois de inexplicável padecer.”

Viagem na Minha Terra – Almeida Garrett

“(...)Júlia deu um grito de alegria quando me viu: raro exemplo de exceção ás formuladas regras que tiranizam a vida inglesa, que prescrevem até a cara com que se há de morrer, e têm graduado o tom em que se deve exalar o último suspiro.”

Viagem na Minha Terra – Almeida Garrett

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